Saturday, November 20, 2010

Writing Group

Desde abril desse ano eu frequento (não muito assiduamente, devo confessar) um grupo de escrita (writing group). Sei lá se é assim que devo dizer em português, mas é um grupo de pessoas que escrevem por prazer e se reunem de vez em quando para falar de livros, para ler as coisas que escreveram, e para fazer uns exercícios de escrita.

Fiquei sabendo que o grupo existia depois que fui a uma palestra sobre escritores americanos expatriados em Paris nas primeiras décadas do século XX. A organizadora do grupo, Marjorie, que morou muitos anos em Paris, era quem estava dando a palestra. No final ficamos umas 5 pessoas falando sobre a obra de Gertrude Stein e eu falei pra caramba!! Foi baseado nas minhas opiniões não muito ortodoxas que a Marjorie achou uma boa idéia me convidar pra fazer parte do grupo. Recebi um e-mail dela umas semanas depois da palestra perguntando se eu escrevia e me falando do grupo e uns meses depois resolvi ir a uma reunião.

A gente se encontra duas vezes por mês, por mais ou menos 3 horas. Normalmente comemos chocolate, tomamos chá ou café, e falamos e escrevemos. Hoje em dia eu vou nem que não esteja a fim, porque quando chego lá, adoro! O grupo é extremamente eclético e, por isso mesmo, interessantíssimo. Tem gente que aparece e desaparece, mas tem um grupo de 5 que sempre estão lá. Deixa, então, eu apresentar os meus colegas mais assíduos.

A R. é uma vítima da crise aqui nos Estados Unidos, que perdeu um emprego muito bom e está há meses procurando outro. Como ela tem mais de 50 anos e a economia continua uma droga, não está encontrando nada. Ela, então aproveitou essa fase de tempo "livre" em que ainda está recebendo o seguro desemprego, pra fazer o que sempre quis: escrever. Detalhe: ela só escreve história de terror!!! Isso não é muito a minha praia, mas devo admitir que ela até me faz ficar interessada nas histórias. Só não sei bem se é pra achar engraçado, mas eu acho.

A N. é uma arquiteta que escreve bem pra caramba mas acha que é péssima! Ela é super ocupada, chega atrasada nas reuniões, sai mais cedo, mas tudo o que ela compartilha com a gente é lindo, super bem escrito. Ela só tem um probleminha parecido com o meu: não termina nada. A não ser o que a gente escreve nas reuniões, com tempo limitado. Eu adoro quando ela traz alguma coisa que está escrevendo pra ler pra gente. Espero um dia poder ler algo que ela escreveu do começo ao fim.

A M. era dona de uma loja chiquérrima de roupas aqui em Albuquerque. Eles só vendiam peças feitas com tecidos orgânicos, marcas que são "environmentally friendly", tudo maravilhoso e caro. Ela é poeta. Não importa o que a Marjorie peça pra gente escrever, quando ela escreve sai poesia. Ela já deveria ter livros publicados, se levasse o talento que tem a sério. Agora que ela fechou a loja, quem sabe?

O H. é um engenheiro aposentado que está escrevendo um livro de memórias. O desafio dele, segundo ele mesmo, é não escrever um livro chato. Ele tem um estilo muito seco devido a muitos anos escrevendo só texto técnico. Ele gosta do que eu escrevo, diz que acha engraçado, leve, e que queria escrever mais assim. O H. nasceu em 1930 num vilarejo no norte do Novo México onde as famílias, descendentes dos espanhóis colonizadores, só falavam espanhol. Ele só entrou em contato com a língua inglesa quando tinha 7 anos e teve que ir pra escola na cidade vizinha. Na última reunião ele leu um texto que escreveu sobre o choque cultural que teve quando passou a frequentar escola secundária em Santa Fé, que era a cidade grande. Muito tocante. Ele está começando a escrever de forma mais informal, menos cérebro e mais coração.

O H. sempre comenta comigo que nós dois estamos em desvantagem porque o inglês não é nossa primeira língua. Talvez por isso ele preste tanta atenção no que eu escrevo, e goste de fazer comentários e me elogiar. Sabe bem que, como ele, eu preciso de uma forcinha a mais. É legal ter um fã lá no grupo, além da Marjorie, claro, que vê todo mundo publicando livros.
Mas o H. tem razão. Nós pegamos uma língua emprestada e achamos que podemos usá-la tão bem que vamos agora escrever! Somos mesmos uns ousados, diria até, metidos!!!


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